sexta-feira, 18 de setembro de 2015

CANTINHO DA SAUDADE

BIOGRAFIA RESUMIDA DE VÓLIA BRANDÃO

Vólia Brandão proferindo aula na Universidade da Amizade dos Povos



(Escrita e apresentada por Pedro José de Castro, membro da comissão organizadora, na abertura do 1o ENCONTRO NACIONAL DOS EX-ESTUDANTES NA EX-URSS, de 24 a 26 de março de 2000, em Angra dos Reis, RJ)

            Vólia Brandão é filha de Octávio Brandão, alagoano, descendente de índios caetés, e da poetisa Laura da Fonseca e Silva (Laura Brandão).  Nasceu no Rio de Janeiro em 1923.
            Em 1931, toda a sua família foi deportada por causa da militância revolucionária dos seus pais. O único país que os acolheu foi a URSS. Naquela ocasião, a vida lá era difícil, já que o jovem Estado soviético estava implementando a industrialização do país numa conjuntura adversa: uma forte resistência de forças contra-revolucionárias.
            Vólia Brandão terminou, com distinção especial, a escola secundária e começou a estudar na Faculdade de Física da Universidade Lomonóssov, de Moscou. Logo depois, durante a Segunda Guerra Mundial, ela participou do trabalho de cavar trincheiras para soldados e trincheiras contra tanques. Trabalhou no campo nos arredores de Moscou e nos Urais, sob temperaturas de –30oC, debulhando cabeças de girassol. Trabalhou também, durante um ano, numa fábrica de costura, 12 horas por dia, fazendo roupas para soldados e alimentando-se apenas com 600 gramas de pão e água quente. O trabalho mais pesado foi em Lecozagotóvki – trazer, duas vezes por dia, de dentro de um bosque, perto do rio Volga, imensas toras de árvores a uma distância de cerca de 5 km. Seis moças faziam o trabalho de dois cavalos. Tal fato ocasionou danos irreversíveis à sua saúde, razão pela qual não pôde ter filhos.
            Vólia tem muito orgulho de tudo que fez na sua participação para a vitória na luta contra o nazi-fascismo.
            Ela continuou estudando na Universidade. Naquela ocasião os estudantes universitários recebiam a mesma ração de pão de centeio dos operários (600 gramas), que era a única fonte de alimentação.
            Vólia terminou o curso universitário em 1947 na especialidade Física de Baixas Temperaturas, com as mais altas qualificações. De 1946 a 1947 trabalhou no Instituto de Problemas da Física da Academia de Ciências da URSS, dirigido pelo célebre físico Kápitsa. Entre os professores estava Lev Landau, Prêmio Nobel de Física de 1962. Trabalhou diretamente com o Acadêmico Alekseievsky, sendo sua orientada no trabalho de tese.
            Durante três anos, com sua irmã Sattva, Vólia dedicou-se à redação e elaboração dos primeiros dicionários russo-português e português-russo. Dedicou-se também ao trabalho de encontrar as equivalências em russo dos fraseologismos da língua portuguesa como, por exemplo “macaco velho não mete a mão em cumbuca”. Foram seus pais que sempre incentivaram para que ela praticasse e estudasse o português, mesmo estando longe de sua terra natal.
            Durante 10 anos foi professora de Física no Instituto Eletrotécnico de Telecomunicações de Moscou. Trabalhou com semicondutores, elaborou problemas fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem na física. Entre outros métodos, elaborou algoritmos para a solução de problemas de física. Teve alunos de todas as repúblicas da URSS, do Vietnã, da China, da Coreia e da Mongólia.
            Em 1961, foi uma das fundadoras dos departamentos de Física na Universidade da Amizade dos Povos Patrice Lumumba. Escreveu seis manuais de Física em russo (com colaboradores). Escreveu também mais dois manuais com o Prof. Gordeev – da Cátedra de Física Teórica –, um dos quais para o curso de “Metódica e Metodologia” para estudantes de Física do 4o ano.
            Na Universidade Patrice Lumumba, além de aulas de Física para estrangeiros na Faculdade Preparatória, ministrou cursos (conferências) para estudantes de engenharia do 1o e 2o anos (Curso de Física Geral) e para estudantes de Física do 4o ano, também (Seminários e Trabalhos de Laboratório). Durante alguns anos foi a encarregada dos exames de formação de tradutores russo-português para estudantes do Brasil e da África.
            No México, ministrou cursos de aplicação da lógica no processo de ensino-aprendizagem nas ciências, para alunos de nível superior. Também deu consultas de matemática, física, lógica e até mesmo sobre problemas de sociologia para estudantes do Instituto Politécnico Nacional e da Universidade Nacional Autônoma do México. Recentemente terminou o livro que seu marido, Fernando Miguelena – matemático já falecido e formado na Universidade Patrice Lumumba – que tinha iniciado sob o título “Fundamentos Científicos de los Modelos”.
            Vólia Brandão foi uma brasileira que se viu obrigada a viver longe de seu país e que soube ir adiante e, sempre caminhar olhando para o futuro.
            A Professora Vólia Brandão recebe, no ENCONTRO DOS EX-ESTUDANTES BRASILEIROS NA URSS, em Angra dos Reis, RJ, 24 de março de 2000, a HOMENAGEM pelo estímulo, dedicação e empenho no processo de ensino e exemplo de vida.

     Vólia entre Gloria e Pedro no 1o Encontro Nacional dos Ex-Estudantes na Ex-URSS

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