CANTINHO DA SAUDADE
BIOGRAFIA RESUMIDA DE VÓLIA BRANDÃO
Vólia Brandão proferindo aula na Universidade
da Amizade dos Povos
(Escrita e apresentada por Pedro José de Castro, membro da comissão
organizadora, na abertura do 1o ENCONTRO NACIONAL DOS
EX-ESTUDANTES NA EX-URSS, de 24 a 26 de março de 2000, em Angra dos Reis, RJ)
Vólia Brandão é filha de Octávio Brandão, alagoano,
descendente de índios caetés, e da poetisa Laura da Fonseca e Silva (Laura Brandão). Nasceu no Rio de Janeiro em 1923.
Em 1931, toda a sua família foi
deportada por causa da militância revolucionária dos seus pais. O único país
que os acolheu foi a URSS. Naquela ocasião, a vida lá era difícil, já que o
jovem Estado soviético estava implementando a industrialização do país numa
conjuntura adversa: uma forte resistência de forças contra-revolucionárias.
Vólia Brandão terminou, com
distinção especial, a escola secundária e começou a estudar na Faculdade de
Física da Universidade Lomonóssov, de
Moscou. Logo depois, durante a Segunda Guerra Mundial, ela participou do
trabalho de cavar trincheiras para soldados e trincheiras contra tanques.
Trabalhou no campo nos arredores de Moscou e nos Urais, sob temperaturas de –30oC,
debulhando cabeças de girassol. Trabalhou também, durante um ano, numa fábrica
de costura, 12 horas por dia, fazendo roupas para soldados e alimentando-se
apenas com 600 gramas de pão e água quente. O trabalho mais pesado foi em
Lecozagotóvki – trazer, duas vezes por dia, de dentro de um bosque, perto do
rio Volga, imensas toras de árvores a uma distância de cerca de 5 km. Seis
moças faziam o trabalho de dois cavalos. Tal fato ocasionou danos irreversíveis
à sua saúde, razão pela qual não pôde ter filhos.
Vólia
tem muito orgulho de tudo que fez na sua participação para a vitória na luta
contra o nazi-fascismo.
Ela continuou estudando na
Universidade. Naquela ocasião os estudantes universitários recebiam a mesma
ração de pão de centeio dos operários (600 gramas), que era a única fonte de
alimentação.
Vólia terminou o curso universitário
em 1947 na especialidade Física de Baixas
Temperaturas, com as mais altas qualificações. De 1946 a 1947 trabalhou no Instituto de Problemas da Física da Academia de Ciências da URSS, dirigido
pelo célebre físico Kápitsa. Entre os professores estava Lev Landau, Prêmio
Nobel de Física de 1962. Trabalhou diretamente com o Acadêmico Alekseievsky,
sendo sua orientada no trabalho de tese.
Durante três anos, com sua irmã
Sattva, Vólia dedicou-se à redação e elaboração dos primeiros dicionários
russo-português e português-russo. Dedicou-se também ao trabalho de encontrar
as equivalências em russo dos fraseologismos da língua portuguesa como, por
exemplo “macaco velho não mete a mão em cumbuca”. Foram seus pais que sempre
incentivaram para que ela praticasse e estudasse o português, mesmo estando
longe de sua terra natal.
Durante 10 anos foi professora de
Física no Instituto Eletrotécnico de
Telecomunicações de Moscou. Trabalhou com semicondutores, elaborou
problemas fundamentais para o processo de ensino-aprendizagem na física. Entre
outros métodos, elaborou algoritmos para a solução de problemas de física. Teve
alunos de todas as repúblicas da URSS, do Vietnã, da China, da Coreia e da
Mongólia.
Em 1961, foi uma das fundadoras dos
departamentos de Física na Universidade
da Amizade dos Povos Patrice Lumumba. Escreveu seis manuais de Física em
russo (com colaboradores). Escreveu também mais dois manuais com o Prof.
Gordeev – da Cátedra de Física Teórica –, um dos quais para o curso de
“Metódica e Metodologia” para estudantes de Física do 4o ano.
Na Universidade Patrice Lumumba, além de aulas de Física para
estrangeiros na Faculdade Preparatória, ministrou cursos (conferências) para
estudantes de engenharia do 1o e 2o anos
(Curso de Física Geral) e para estudantes de Física do 4o
ano, também (Seminários e Trabalhos de Laboratório). Durante alguns anos foi a
encarregada dos exames de formação de tradutores russo-português para
estudantes do Brasil e da África.
No México, ministrou cursos de
aplicação da lógica no processo de ensino-aprendizagem nas ciências, para
alunos de nível superior. Também deu consultas de matemática, física, lógica e
até mesmo sobre problemas de sociologia para estudantes do Instituto Politécnico Nacional e da Universidade Nacional Autônoma do México. Recentemente terminou o
livro que seu marido, Fernando Miguelena – matemático já falecido e formado na
Universidade Patrice Lumumba – que tinha iniciado sob o título “Fundamentos Científicos de los Modelos”.
Vólia
Brandão foi uma brasileira que se viu obrigada a viver longe de seu país e que
soube ir adiante e, sempre caminhar olhando para o futuro.
A Professora Vólia Brandão recebe,
no ENCONTRO
DOS EX-ESTUDANTES BRASILEIROS NA URSS, em Angra dos Reis, RJ, 24 de
março de 2000, a HOMENAGEM pelo
estímulo, dedicação e empenho no processo de ensino e exemplo de vida.
Vólia entre Gloria e Pedro no 1o Encontro Nacional dos Ex-Estudantes na Ex-URSS
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