NO CONSULTÓRIO MÉDICO EM MOSCOU
Pedro Castro
Duas dessas
histórias podem ter sido a mim contadas pelos folclóricos Roberto Manteiguinha
ou Tabachok, durante os meus tempos da Faculdade Preparatória. Roberto
Manteiguinha, compositor, poeta, contador de histórias, revelou-me que por
vezes acordava durante a noite e, inspirado, começava a escrever. Uma de suas
poesias, belíssima, combinava o binômio foice-martelo com cruz-espada.
Lembro-me perfeitamente de nosso último encontro no obchejitie, ocasião
em que me disse exatamente essas palavras: “O que eu estou fazendo em Moscou?
As minhas músicas estão estourando nas paradas de sucesso no Brasil. Vou
embora!”. Tabachok, sempre bem-humorado e sorridente, toda a vez que me
encontrava, perguntava: “Como vai essa Prepa?” Diziam que seu apelido advinha
do fato de ter sido dono de uma tabacaria em São Paulo.
1. - Numa
das histórias, um ex-estudante brasileiro em Moscou começou a ter um problema
digestivo: tudo o que comia não era metabolizado pelo seu organismo, evacuando
tudo da mesma forma que digeria. Foi ao médico na Donskoi, falou do seu
problema e ele lhe receitou uns remédios. Um ou dois dias depois, voltou
apavorado ao médico e lhe disse: “Doutor, o caso é que ... não se transforma em
merda! O médico prontamente lhe respondeu: “Então coma merda e cague merda!
Soube que um
estudante brasileiro na França foi acometido do mesmo mal. Um professor da
Unicamp que participou da minha banca de tese de doutorado na USP, Rui Fragassi
de Souza, contou-me pessoalmente que quando tinha 12 anos de idade, morava com
seus pais em Tubarão, cidade de Santa Catarina, teve o mesmo problema
metabólico. O seu pai, preocupado, que via o filho emagrecer e definhar dia a
dia, o levou a vários médicos da cidade, mas nenhum deles resolveu o seu
problema. Soube que nas redondezas vivia um curandeiro: lá levou o Rui, e o
tratamento recomendado pelo curandeiro foi ... comer terra. Rui seguiu o
tratamento recomendado, ficou completamente curado dias depois e nunca mais
padeceu daquele mal.
2. - Um
certo ex-estudante brasileiro não se deu bem com a comida das stolovaias,
não gostava e simplesmente deixou de se alimentar. Foi ao médico e lhe
perguntou: “Doutor, quanto tempo vive uma pessoa sem comer? O médico balbuciou
“... uma semana, dez dias...” Em seguida, falou resolutamente: “Mas se comer,
vive muito mais!”
3.
- Ao
término da Faculdade Preparatória em 1972 resolvi ir para a “studientcheskii
otriad” no Kazaquistão. Soube que o saudoso Sérgio Schon tinha ido lá no ano
anterior e resolvi conversar com ele para me dar umas dicas. Então, ele me
contou sobre a sua entrevista com o médico para que lhe desse o laudo para
enfrentar a dura empreitada. Segundo ele, “... o médico olhou atentamente para
o meu relógio e perguntou se o mesmo funcionava direitinho’. Com a minha
afirmativa, ao final me respondeu: “Você deve trabalhar tão bem como o seu
relógio! Aprovado!”
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