quinta-feira, 20 de agosto de 2015

CANTINHO DA SAUDADE

NO CONSULTÓRIO MÉDICO EM MOSCOU
Pedro Castro

Duas dessas histórias podem ter sido a mim contadas pelos folclóricos Roberto Manteiguinha ou Tabachok, durante os meus tempos da Faculdade Preparatória. Roberto Manteiguinha, compositor, poeta, contador de histórias, revelou-me que por vezes acordava durante a noite e, inspirado, começava a escrever. Uma de suas poesias, belíssima, combinava o binômio foice-martelo com cruz-espada. Lembro-me perfeitamente de nosso último encontro no obchejitie, ocasião em que me disse exatamente essas palavras: “O que eu estou fazendo em Moscou? As minhas músicas estão estourando nas paradas de sucesso no Brasil. Vou embora!”. Tabachok, sempre bem-humorado e sorridente, toda a vez que me encontrava, perguntava: “Como vai essa Prepa?” Diziam que seu apelido advinha do fato de ter sido dono de uma tabacaria em São Paulo.

1. - Numa das histórias, um ex-estudante brasileiro em Moscou começou a ter um problema digestivo: tudo o que comia não era metabolizado pelo seu organismo, evacuando tudo da mesma forma que digeria. Foi ao médico na Donskoi, falou do seu problema e ele lhe receitou uns remédios. Um ou dois dias depois, voltou apavorado ao médico e lhe disse: “Doutor, o caso é que ... não se transforma em merda! O médico prontamente lhe respondeu: “Então coma merda e cague merda!
Soube que um estudante brasileiro na França foi acometido do mesmo mal. Um professor da Unicamp que participou da minha banca de tese de doutorado na USP, Rui Fragassi de Souza, contou-me pessoalmente que quando tinha 12 anos de idade, morava com seus pais em Tubarão, cidade de Santa Catarina, teve o mesmo problema metabólico. O seu pai, preocupado, que via o filho emagrecer e definhar dia a dia, o levou a vários médicos da cidade, mas nenhum deles resolveu o seu problema. Soube que nas redondezas vivia um curandeiro: lá levou o Rui, e o tratamento recomendado pelo curandeiro foi ... comer terra. Rui seguiu o tratamento recomendado, ficou completamente curado dias depois e nunca mais padeceu daquele mal.

2. - Um certo ex-estudante brasileiro não se deu bem com a comida das stolovaias, não gostava e simplesmente deixou de se alimentar. Foi ao médico e lhe perguntou: “Doutor, quanto tempo vive uma pessoa sem comer? O médico balbuciou “... uma semana, dez dias...” Em seguida, falou resolutamente: “Mas se comer, vive muito mais!”


3. - Ao término da Faculdade Preparatória em 1972 resolvi ir para a “studientcheskii otriad” no Kazaquistão. Soube que o saudoso Sérgio Schon tinha ido lá no ano anterior e resolvi conversar com ele para me dar umas dicas. Então, ele me contou sobre a sua entrevista com o médico para que lhe desse o laudo para enfrentar a dura empreitada. Segundo ele, “... o médico olhou atentamente para o meu relógio e perguntou se o mesmo funcionava direitinho’. Com a minha afirmativa, ao final me respondeu: “Você deve trabalhar tão bem como o seu relógio! Aprovado!”

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